Para entender um pouco sobre Naturismo não é suficiente ficar nu. Esse é o
menor dos problemas, apesar de ser uma condição, ainda assim diz muito pouco
se não houver uma profunda reflexão como o corpo humano se relaciona com a
natureza em que vive. A experiência com a própria nudez irá provocar
questionamentos das mais variadas maneiras, desde os instintos inerentes à
nossa espécie até mesmo seus relacionamentos sociais.
O indivíduo quando se questiona encontra em si mesmo pensamentos
contraditórios, ao mesmo tempo em que defende a liberdade ele cria regras de
conduta e leis que não seriam necessárias se estivéssemos o entendimento das
leis da natureza. A Luz Del Fuego já tinha a noção que para ter algo teria
que criar o seu oposto e assim disse: "Para a imoralidade a nudez", isso não
parece contraditório? E porque não é? Os naturistas conseguem ter essa
percepção, só que muitas vezes não entendem que a pergunta é a resposta,
está justamente na natureza dos opostos.
John Kenneth Galbraith em sua obra clássica "A Era da Incerteza", escrito em
1977 ele aborda noções e histórias de fatos que pouco mudaram atualmente, ao
contrário, a incerteza até aumentou. A obra dele é sobre economia, que
também faz parte das relações humanas. O que acontece com a nossa espécie?
Fragmentamos nossas relações econômicas, políticas sociais e criamos opostos
e ficamos vulneráveis aos conflitos gerados pelas nações e como disse o
próprio Galbraith "As cinzas do Comunismo e do Capitalismo serão totalmente
indiferenciáveis entre si".
Felipe de Freitas Leal no seu texto sobre o livro de Galbraith diz: Se há
algo que os políticos devem aprender, é a de não repetir erros do passado, a
humanidade já chegou a um desenvolvimento tecnológico que se mostra escravo
dos interesses econômicos de grandes grupos, apenas pelo lucro ou pela
guerra, quem sofre irreversivelmente é o planeta e as gerações futuras.
A desflorestação, a extinção de inúmeras espécies, o esgotamento de água
potável, a erosão dos solos, o degelo das calotas glaciais entre tantos
outros males, tornam impossível prever uma saída para isto a curto prazo e o
que pode se prever de fato é a incerteza que vivemos e viverão as gerações
futuras.
Quando criamos opostos surgem também os conflitos e a sabedoria da natureza
mostra isso. A vida não é algo estático, é como um rio que flui entre as
suas margens, não há oposição. A luz só acende pela existência dos pólos
negativos e positivos, a espécie humana só perpetua pelo homem e mulher,
eles são diferentes, mas não opostos. A existência do dia só é possível
porque existe a noite, há vida porque existe a morte. Todo florescimento,
todo encanto e beleza só surge com harmonia daquilo que achamos que são
opostos e não são. Os únicos que fazem isso são os seres humanos e por isso
não têm encontrado paz.
Frequentemente somos enganados pelos nossos sentidos, seja pela visão,
audição, tato, olfato e até pelo paladar. Se traçarmos uma reta
continuamente, veremos que, na verdade, tornou-se uma curva, só é uma reta
numa fração do espaço. Não conseguimos ter a dimensão do "todo", nossa
percepção da realidade é totalmente distorcida. Daí surgiu o discurso de
Descartes:
Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, eu quis supor
que nada há que seja tal como eles o fazem imaginar. E porque há homens que
se enganam ao raciocinar, até nos mais simples temas de geometria, e neles
cometem paralogismos, rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me
como qualquer outro, todas as razões de que até então me servira nas
demonstrações.
Finalmente, considerando que os pensamentos que temos quando acordados nos
podem ocorrer também quando dormimos, sem que neste caso nenhum seja
verdadeiro, resolvi supor que tudo o que até então encontrara acolhimento no
meu espírito não era mais verdadeiro que as ilusões dos meus sonhos. Mas
logo em seguida notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso,
eu, que assim o pensava, necessariamente era alguma coisa. E notando esta
verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as
extravagantes suposições dos céticos seriam impotentes para abalar, juguei
que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que
procurava.
A humanidade esqueceu que vive iludida numa verdade inexistente, e assim o
que deveria se unir em busca de harmonia, são separados por essa ilusão de
opostos. A filosofia de vida naturista tem mostrado um caminho alternativo
de união sem divisão de qualquer espécie, infelizmente ainda mal
compreendida justamente pela demonstração de igualdade perante todas as
pessoas que a vivenciam, que é a própria naturalidade da nudez.
Evandro Telles
01/07/12
www.evandrotelles@blogspot.com
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